Em outubro de 2014, quando o Presidente de Burkina Faso, Blaise Compaoré, estava se preparando para fazer uma emenda à constituição do país que iria eliminar o tempo limite de mandado presidencial e o permitira estender seu mandato de 27 anos, dez mil cidadãos de Burkinabé na capital de Ouagadougou romperam os isolamento policial para atear fogo em vários edifícios governamentais que incluíam a prefeitura, a sede nacional do partido em mandato atual, e o edifício da Assembléia Nacional. Nos dias atuais, o presidente Compaoré recuou, inaugurando uma nova era de governo democrático resultando na primeira eleição presidencial pluralista e competitiva do país em 2015.
Mas a revolução deixou o antigo complexo governamental em ruínas e em extrema necessidade de uma direção clara para o futuro, tanto culturalmente como arquitetonicamente. Enquanto antiga colônia francesa, Burkina Faso é o lar de 19 milhões de pessoas, 50 etnias diferentes e mais de 60 línguas. O país precisava de um novo Parlamento que servisse de base comum para esses grupos diversos, enquanto proporcionaria tecnologia e educação necessária para criar oportunidades e melhor qualidade de vida para todos cidadãos.
Para encontrar esta solução, o novo chefe do Parlamento comissionou no ano passado o arquiteto e nativo burkinabês Francis Kéré para desenvolver um edifício e masterplan para o edifício da Assembléia. O novo edifício, nas palavras do arquiteto, deveria ser um edifício "que não apenas dirigisse os valores que são os valores democráticos fundamentais de transparência, abertura e igualdade, mas também se tornaria catalizador para o crescimento e desenvolvimento para a capital da cidade de Ouagadougou como um todo."
Na edição de 2016 da Bienal de Veneza como parte da exposição "Na busca de uma nova Ouagadougou” na 15ª Exposição de Arquitetura Internacional, Francis Kéré e seu escritório Kéré Architecture, revelaram seus planos para o projeto pela primeira vez.
O projeto parte de uma forma de templo Zigurat que convida as pessoas a escalaram, entrarem e ocupar toda a superfície do edifício. Com seis pavimentos de altura, o edifício se destacaria do entorno de pouca altura e topografia plana de Ouagadougou, dado aos residentes uma nova perspectiva elevada da cidade como um todo. As decisões de projeto combinam para criar um novo senso de democracia que é liberal e simbólico.
Em uma disposição similar a um vilarejo, o processo de tomada de decisão não é um assunto privado que ocorre entre quatro paredes; os membros da comunidade são livres para participarem das reuniões e observar os procedimentos. Neste verdadeiro espírito de transparência e abertura, a fachada externa da estrutura do parlamento é projetada para ser habitada pelo público," explicaram os arquitetos.
O projeto também é inspirado na economia agricultora de Burkina Faso, onde quase 90% da força de trabalho é empregada em cultivos. Por esta razão, foram integrados uma série de terraços verdes ao longo da fachada ocupável para criar um laboratório comunal para técnicas pioneiras de agricultura urbana. A vegetação tem apoio de elementos de proteção solar, que também auxiliam no fornecimento da circulação de ar resfriado nos interiores do edifício.
Dentro do edifício, o hall da Assembléia Parlamentar tem 127 poltronas e foi projetado para não replicar os modelos ocidentais de câmaras governamentais, mas respondem à necessidades, recursos e clima locais. Para alcançar isso, os arquitetos se voltaram para as configurações tradicionais dos governos de Burkina Faso.
"Em áreas rurais, os mais anciões dos vilarejos se reúnem para discutir assuntos importantes sob a sombra de uma grande árvore. Aqui foi reinterpretado como uma Árvore de Palavras, em um jardim privado diretamente adjacente ao hall da Assembléia formal onde os membros do parlamento podem se reunir mais diretamente."
O novo edifício do parlamento está inserido em um masterplan maior que também fará homenagem à história do terreno - no lugar da ruína do edifício antigo, será erguido um memorial na forma de uma depressão e um espelho d'água onde a água da chuva pode ser recolhida para irrigação in loco e também como um sistema de resfriamento passivo para os interiores. O espaço pretende criar uma atmosfera serene onde "visitantes podem relaxar na sombra e refletir naqueles que perderam a vida nas revoltas."
No entorno do memorial, um bosque de árvores nativas irá proporcionar zonas sombreadas para sentar e se reunir. No entorno, novas lojas comerciais e espaços de exposições vão ativar o espaço.
Em uma época transformadora para Burkina Faso, o projeto aborda a questão de "como avançamos?" ao criar um edifício e um masterplan que são de fato para seu povo.
“Queremos que todo o edifício seja uma plataforma para as pessoas se apropriarem.”
O projeto esteve em exibição na 15ª Exposição de Arquitetura Internacional Reporting from the Front para a Bienal de Veneza .
Créditos do Projeto
Arquitetura: Kéré Architecture
Localização: Ouagadougou, Burkina Faso
Equipe de Projeto: Francis Kéré, Adriana Arteaga, Jaime Herraiz, Andrea Maretto, Diego Sologuren Martin, Nina Tescari, Blake Villwock
Via Kéré Architecture.